No 19º do Tempo Comum, o arcebispo de
Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB Norte1), cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia definindo a
Palavra ouvida como “consoladora e animadora”, afirmando que “somos
atraídos pelo Pai do céu. A Encarnação da fé é uma história de atração. Deus
atraindo, porque amando.”
Segundo o cardeal Steiner, “se chegamos
a conhecer a Jesus e o seguimos, é porque o Pai nos atrai. Ele é um movimento atrativo. Como se
Jesus nos dissesse: quem quer que seja, se vier a mim, em qualquer tempo, em
todos os tempos, em todas as gerações, se chegar até mim, se tonar meu
seguidor, minha seguidora... foi pego pelo movimento atrativo do Pai, o charme
do Pai. Não sou eu que atraio, é o Pai que atrai.”
O arcebispo de Manaus destacou que “quem atrai é o amor; fomos
atingidos por uma atração amorosa! Um amor procurante que seduz, encanta. O
texto sagrado insinua que não se trata de uma atração acontecida no passado,
mas que o ‘atrai’ do Pai, nos conduz até o encontro amoroso no Reino
definitivo. Um convite a estarmos sempre mais em sintonia, em comunhão,
submergidos no Amor atrativo. É uma atração que se estabelece no tempo, mas
atravessa todos os tempos.”
Ele lembrou
as palavras de Santo Agostinho, que nos faz ver que somos atraídos com
agrado e prazer: “Eu sou o pão que desceu do céu”. O pão que alimenta, que tem sabor. Há um
apetite no coração pelo qual ele tem o sabor do pão do céu. Não é com a
necessidade, mas com o prazer; não é com a violência, mas com o deleite que
somos atraídos: o pão do céu. Por isso, ensina não só os sentidos têm os seus
deleites, mas também a alma. É um deleite para a alma o “atrai” do Pai!
O arcebispo
de Manaus sublinhou que “a alma amante tem fome da vida do ‘atrai’... Daí, o
versículo terminar com a ressurreição dos mortos... a vida eterna, o ‘viverá
eternamente’. Sim, atraída para
dentro da eternidade, do amor da Trindade”. Ele perguntou: “O que suscita o ‘atrai’!?”, afirmando que “certamente ultrapassa
a inquietação e a frustação da murmuração: ‘Não murmureis entre vós’. Na murmuração se encontra um certo azedume, um amargor,
às vezes uma indiferença. Mas quem se sente atraído no amor é tomado pela leveza, pelo contentamento, pela fecundidade da
vida. Fecundidade da vida que desperta a leveza quase infantil de viver. Uma
pedagogia que abre constantemente possibilidades existenciais frente à
cotidianidade dura e às vezes aniquiladora.”
“O encanto da atração traz
no seu bojo o sentido de fecundidade, um cuidado materno-paterno em relação aos
necessitados, aos desvalidos, aos que a sociedade rejeita, aqueles e aquelas
que andam e navegam sem destino, sem porto, sem estrada, sem rio, sem chegada! O
atrai abre olhos para o que está por vir: porto, espaço e tempo de
encontro. O ‘atrai’, então, desperta leveza, sutileza, humor, transparência,
pois ‘Tu és o gáudio. Tu és a nossa esperança e alegria’”, disse, inspirado em Francisco
de Assis.
Segundo dom
Leonardo, “no ‘atrai’ somos despertados para a gratuidade do seguir Jesus,
fugindo de moralismos, de ideologizações da fé, de acharmos que podemos
aprisionar em conceitos e dogmatismos as delicadezas da atratividade de Deus.
É que no ‘atrai’ há liberdade, a graça de corresponder gratuitamente à atração”.
Diante disso, ele afirmou que “talvez, por isso, Santo Agostinho nos adverte
contra a soberba, no sentido de considerar que chegamos a Jesus Cristo com as nossas
próprias forças, nossa vontade, por própria decisão. Ele nos ensina que este
orgulho, este inchaço da alma, não procede, pois mesmo essa presunção advém da
graça de sermos ‘atraídos’.”
“A ‘Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atração’. A atração testemunhal. Esse testemunho que nasce da alegria
assumida, aceita e depois transformada em anúncio, é uma alegria fundada. Sem
este gozo, sem esta alegria não se pode fundar uma Igreja, não se pode fundar
uma comunidade cristã. É uma alegria apostólica, que se irradia, que se
expande”, disse o cardeal citando Papa Francisco.
Comentando a primeira leitura, ele
destacou que “ouvíamos como profeta Elias foi atraído e enviado. O
profeta de Deus, o invocador do fogo do céu que consumiu não só o sacrifício,
mas também o altar, o vencedor dos sacerdotes e profetas de Baal, se colocou em
fuga. Perseguido, foge esmorecido, desalentado, inconformado, tomado pela
desilusão. Caminha deserto adentro e, depois de um dia a caminho esquecido da
atração, pede a morte: ‘Agora basta, Senhor! Tira minha vida, pois
não sou melhor que meus pais’ (1Rs 19,4).”
“A
pregação de Elias dera em nada. Em vão tinha labutado e lutado. Até então,
tinha dado testemunho de um espírito que era pura vontade e poder, esquecido
que fora atraído! Doara-se inteiramente num ímpeto vigoroso e numa consciência
de absoluta responsabilização e zelo. Nesse ímpeto e nessa absoluta doação, que
desencadeava ação, atuação, execução, trabalho e realização, Elias, talvez, se
julga próximo de Deus. Na realidade ele entra em desalento por estar servindo
com as próprias forças, não com as forças e graças da atração”, comentou
sobre o texto da primeira leitura.
O cardeal ressaltou que “luta com suas
forças, o profeta supera os deuses e seus profetas, mas entra numa espécie de
depressão. E Deus sai em seu auxílio e o atrai. No meio do deserto, na
dormência da morte, na desilusão, na perda da vontade de poder, é acordado,
atraído: ‘Levanta-te e come!’ (1Rs 19,5). Ele olhou e vê à sua cabeceira um pão
cozido sobre pedras quentes e uma bilha d’água. Se levanta, come e bebe e “com
a força deste alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao
monte de Deus Horeb” (1Rs 19,8).”
Nessa perspectiva, o arcebispo de Manaus
disse que “ele recebe o pão e a água, retoma o caminho depois da decepção,
do cansaço, da fuga, da desilusão, da não conversão, da perseguição. O pão e
a água erguem o profeta do medo e da fuga, o colocam de pé e perfaz o caminho da
sua origem e de seu povo, o monte Horeb. Horeb o monte da aliança, do encontro,
da promessa. É atraído para o monte onde Deus de Abraão, Isaac e Jacó começou a
revelar-se como Jahvé; foi nesse monte que Moisés viu o Senhor face a face e
entrou na sua intimidade; foi nesse monte que se concluiu a aliança, fundamento
do Povo de Deus, concedendo-lhe os mandamentos para permanecer fiel à atração. Com
o pão caminha para o lugar da fonte, do encontro, das revelações de Deus.”
Finalmente,
ele destacou na primeira leitura que “o caminho de Elias através do deserto
tornou-se, assim, um paradigma de toda a existência humana, pois iluminação da
atratividade de Deus. Nossa vida é como a viagem do profeta. Cheia de medos,
fugas, fidelidades e infidelidades, fomes e sedes, frustrações, desilusões,
sonhos, pregações, buscas, propósitos, desejo de morte, mas tem como fio
condutor a atratividade de Deus. A visita de Deus, a atração, que nos
conforta com o pão da fé e da confiança que vêm do alto e que nos levam a
retomar, sempre de novo, o sentido de nossa vida até Horeb, o monte de
nossa origem, Deus. Aquela beleza da atratividade de Deus no meio do deserto,
para manifestar na suavidade da brisa”, inspirado no comentário de Fernandes e
Fassini.
Na
segunda leitura, o cardeal Steiner ressaltou que “São Paulo nos ensinava que o
Pão descido dos céus transforma nossa humanidade, pois Des nos marcou com o
selo da libertação. Atraídos e participantes do Pão descido do céu, somos
convidados a superar a amargura, a irritação, a cólera, gritaria, injúrias. A
atração do Pão nos transforma em bondade uns para com os outros, nos leva a ter
compaixão, misericórdia, perdão, consolo. Sim, como o Pão descido do Céus que
nos atrai, somos transformados em imitadores de Jesus, repartindo a nossa vida,
os nossos dons, também os nossos bens, pois fomos em Jesus atraídos pelo Pai. São
Paulo termina a afirmando: Como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus
por nós, em oblação e sacrifício de suave odor, vivei no amor. A Eucaristia é
atrativa, pois nos convida ao amor: límpido e gratuito.”
Falando
sobre o mês vocacional, ele lembrou que “rezamos pelos irmãos e irmãs que
receberam a graça da atração de Deus para viver o amor no matrimônio. A atração
mútua suscitada pela atratividade de Deus, possibilita fecundidade e
geratividade. Fecundidade na transformação e salvação mútua, e geratividade
pela presença dos filhos. É a vocação que visibiliza o que ouvíamos na segunda
leitura: Como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em
oblação e sacrifício de suave odor, vivei no amor. Essa entrega livre e
gratuita no amor que fortifica, revigora e liberta a vocação matrimonial.”
Igualmente,
dom Leonardo pediu lembrar que “hoje o Dia dos Pais”, pedindo “gratidão e
oração pelos nossos pais! Rezemos pelos nossos já falecidos. Rezemos pelos pais
que não reconhecem e exercem a graça da paternidade. Peçamos a graça da
realização na paternidade aos nossos vivos. Possam inspirar-se na
paternidade divina.”
“Irmãs
e irmãos, Deus nos atrai e nos concede a graça da vocação. O profeta deixou-se
atrair no deserto pelo pão e recebeu vida nova. Deixemo-nos atrair pela
vocação recebida. Deixemo-nos atraídos pelo Pão que é vida do mundo”,
concluiu o arcebispo de Manaus.
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