O Conselho
Indigenista Missionário Regional Norte 1 realiza de 8 a 10 de fevereiro de 2025
no Xare de Manaus sua assembleia anual. Mais de 50 missionários e lideranças indígenas
analisam a atual conjuntura social e eclesial no Brasil em vista de avançar diante
dos muitos desafios que os povos originários enfrentam na Amazônia e no Brasil.
Um encontro em que se fizeram presentes o bispo de Alto Solimões e
vice-presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, dom Adolfo Zon, o bispo de São Gabriel da Cachoeira, dom Raimundo
Vanthuy Neto, bispo referencial para a Pastoral Indigenista e do CIMI no Regional, o
bispo de Parintins, dom José Albuquerque, e a secretária executiva do Regional,
Ir. Rose Bertoldo.
No Brasil, “os
direitos dos povos indígenas estão passando por uma situação delicada, porque é
uma situação de negociação dos direitos que foram conquistados na Constituição
Federal de 88”, afirma o secretário executivo do Conselho Indigenista
Missionário, Luis Ventura. Ele se pergunta “Como é que chegamos aqui?”. Diante
disso, ele disse que “apesar de que o Supremo Tribunal Federal determinou que o
Marco Temporal era inconstitucional e falou isso em setembro de 2023, depois o
Congresso Nacional aprovou uma lei que continua em vigor até hoje, que
determina de novo o Marco Temporal como parâmetro e que afronta totalmente os
direitos que os povos indígenas conquistaram na Constituição.”
Luis
Ventura lembrou que essa lei continua em vigor porque o Supremo Tribunal
Federal, em lugar de declarar ela inconstitucional, abriu o que chamou uma mesa
de conciliação ou de negociação, que no nosso entendimento é absolutamente
inapropriado, inadequado, não competente, poder fazer conciliação sobre direitos
humanos fundamentais”. Diante disso, sublinha que “esse é o momento em que
estamos, em que os direitos dos povos indígenas não estão sendo garantidos, há
uma reconfiguração dos direitos. Da forma como está na Constituição Federal de
1988 e a única forma de poder superar essa situação, esse impasse, será através
da mobilização política e jurídica também dos povos indígenas e de todos os
seus aliados.”
Não podemos
esquecer que no Regional Norte1 “a Igreja sempre foi uma grande parceira dos
povos indígenas”, segundo dom Vanthuy. Ele destaca a importância do pontificado
do Papa Francisco e sua preocupação com os povos e seus direitos, ressaltando a
importância do Sínodo para a Amazônia, onde os povos indígenas se envolveram,
dado que “nenhuma outra região do mundo o Papa chamou para discutir em Roma”.
“Os bispos
sentem uma necessidade de uma rearticulação do tema do sínodo, daquilo que o Sínodo
indicou como sonho, mas também como processo de conversão”, disse o bispo de
São Gabriel da Cachoeira, recordando aqueles famosos quatro sonhos, os quatro
caminhos de conversão. Para isso está previsto um encontro em Bogotá no mês de
agosto com todos os bispos da Pan-Amazônia, inclusive os eméritos, são
convidados, “para repensar e, diríamos assim, talvez até relançar todo o
caminho iniciado pelo Sínodo”, lembrando que “em algumas igrejas deram alguns
sinais pequenos, foram plantadas algumas sementes, em outras ainda está para
vir”.
Igualmente,
ele destacou que o atual pontificado está aberto para as questões de direitos
das minorias, dos pobres, sendo feito pelo Papa, aa Laudato Si´, uma ligação
entre terra e povos, pensar as questões sociais e as questões ecológicas num
único caminho, não separados”. Dom Vanthuy refletiu sobre o aumento do movimento
neopentecostal dentro da igreja, com pessoas reacionárias, inclusive contra o
Papa, citando diversos exemplos dessa tendência.
Frente a
isso, dom Vanthuy destacou a importância, dentro da Igreja e na sociedade, de o
cardeal Leonardo Steiner ser o presidente do CIMI. Isso numa Igreja em que “nós
vivemos um tempo, apesar de um Papa que aponta uma Igreja em saída, nós vivemos
um tempo muito forte na Igreja de um voltar para dentro de casa. Uma grande
força do movimento intra-eclesial, cuidar de dentro de casa. O diálogo com o
mundo, apesar da insistência do Papa Francisco, apesar de aparecerem vozes, mas
não é uma constante”, disse dom Vanthuy. Ele lembrou que as lideranças
eclesiais que defendem a luta pelos direitos são rejeitadas, inclusive
perseguidas.
A causa
indígena tem que ser a causa de quem nasceu no Brasil e na Amazônia, disse o
bispo de Parintins, dom José Araújo de Albuquerque. Como membro da Comissão de
Ministérios e Vocações da CNBB, ligado ao serviço de animação vocacional e aos
formadores, ele enfatizou que “temos que formar os nossos seminaristas, os
nossos futuros padres, os diáconos, as religiosas, nessa perspectiva, senão a
gente sempre vai ficar preocupado mais com os aspectos secundários da nossa
missão e não somar forças.”
Segundo o
bispo de Parintins, “o nosso papel seria sempre acompanhar, incentivar, apoiar,
favorecer.” Ele destaca a importância dos padres nascidos e formados na região acompanhar
as causas indígenas, pois isso sempre foi visto como algo próprio dos missionários
chegados de fora, ressaltando que em sua diocese, tem padres que “não conhecem
as nossas áreas indígenas”, denunciando que a falta de presença da Igreja
católica provoca a entrada de outras igrejas, o que demanda maior
acompanhamento do clero, algo que deve ser incentivado desde o tempo do Seminário,
desde a animação vocacional, ajudando os padres a ir além do litúrgico, não reduzir
a missão só ao aspecto sacramental.
O bispo de
Alto Solimões, dom Adolfo Zon recordou que é a segunda diocese que mais
indígenas tem depois de São Gabriel da Cachoeira. Essa realidade representa um
desafio grande para a diocese, relatando situações presentes no trabalho com os
povos indígenas naquela igreja local, mostrando sua preocupação diante dos
poucos missionários que trabalham com os indígenas, inclusive nas cidades. Ele
chamou a mobilizar as comunidades para deixar-se interpelar por esta realidade
indígena, que “não são outros, é a nossa gente.”
Um desafio
que leva dom Adolfo a esperar que “na próxima Assembleia do Povo de Deus,
possamos tirar alguma diretriz que nos ajude para esta aproximação e,
sobretudo, uma presença mais contínua”, que considera “uma riqueza para nós, Igreja,
e também para os próprios indígenas.” Ele destacou o trabalho que está sendo
com as vocações indígenas, e a resposta positiva que os seminaristas indígenas
estão dando, que espera “nos ajudem a ter uma presença mais significativa
também entre os povos e assim poder também através da própria cultura, fazer um
trabalho mais dinâmico e mais sério.”
Na Assembleia
foi lembrado o 11º Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas,
uma realidade que atinge os povos indígenas, também vítimas desse crime. Junto
com isso, a assembleia do CIMI tem sido espaço para refletir sobre as ameaças
aos territórios diante das falsas soluções ambientais, a proteção dos
territórios e as novas estratégias de invasões e frente às falsas soluções de
exploração. Tudo isso mediante trabalhos em grupos em busca de prioridades e
estratégias, com informes, estudo e análise do Manual de Normas e Procedimentos
e a elaboração da agenda para 2025.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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