No 5º domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus,
cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia lembrando que “Jesus
rodeado da multidão, sobe na barca de Pedro e começa a ensinar. O lugar, o
púlpito, do ensino de Jesus é a barca de Pedro. Na realidade, o lugar do
ensinamento de Jesus é o lugar do ganha pão do pescador. A vida do pescador
torna-se o lugar da pregação. Mais que da pregação da escuta. Por isso, Jesus
envia Pedro para águas mais profundas depois de uma noite sem pesca.”
“Jesus,
Palavra do Pai, é buscada, comprimida pela multidão desejosa da boa nova! A
Palavra que começa a ressoar, ao distanciar-se tomando a barca, a
cotidianidade de Pedro, como lugar de ensinamento. A palavra dirigida à
multidão é uma palavra para cada pessoa! Ao procurar o coração de Pedro, Jesus
procura o coração de todos os escutadores da Palavra”, afirmou o cardeal. Após citar
o texto bíblico: “Avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a
pesca!”, ele disse que Pedro responderá à provocação de Jesus: “Mestre,
trabalhamos a noite inteira e não pescamos nada”. Diante disso, o arcebispo
questionou: “Como avançar para profundidade, se perdemos uma noite, e o cansaço
tomou conta de nossos braços e de nosso coração? Como avançar para a
profundidade e recomeçar, depois da frustração, da perda do pão? Como sair da
noite do fracasso para o raiar de um novo dia?”
Segundo
o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB Norte1), “a força da Palavra transforma, revigora, acalenta, desperta
a esperança, fortifica o espírito abatido: ‘pela tua palavra, lançarei as
redes’! No lançar, lançar-se, atirar-se nas profundezas insinuadas pela Palavra.
E na aceitação do convite a surpresa: que abundância! Inacreditável como o
avançar para as profundezas produz frutos abundantes! Não só. Como da
frustração do ganha-pão, nasce a abundância, nova visão, nova percepção. Como
da abundância nasce a solidariedade, a ajuda mútua, a comunhão de forças! Mais:
como da abundância que nasce das profundezas, brota o espanto, a confissão, a
admiração! E da admiração e espanto, uma nova vocação! Provocador o texto
proclamado”!
“A
palavra de Jesus que reverbera na nossa cotidianidade, na nossa vida diária,
nos dissabores, nas alegrias, em todos os momentos de nossa vida. Mas,
especialmente quando no labor de nossas mãos se faz noite e saímos de mãos
vazias. Nesse dissabor recebemos, como Pedro, o convite para as águas mais
profundas, Depois da secura, da noite incompreendida, bem trabalhada, mas mal
trabalhada, coração vazio, o vazio de quem apenas permanece a lavar as redes e
desejando guardá-las, um encontro opara recomeçar. É do encontro com Jesus que
somos convidados, convidadas a avançar e não retroceder. Avançar, para a
profundidade do Reino que nos é ofertado.
Nesse partir, retomar, aprofundar é que descobrimos a grandeza e a
abundância da vida com Jesus. É ali que nasce a atração por Jesus e a
admiração. E da admiração recebemos a missão de ensinar”, disse o cardeal
Steiner.
Ele
chamou a “ensinar, animar, iluminar, ajudar a abrir veredas no emaranhado da
vida. Como seguidores e seguidoras de Jesus somos provocados a usar de
todos os meios para que Jesus, o Reino de Deus, seja anunciado, conhecido e
amado. Participamos, expomos, as frustrações, as decepções, as noites
frustradas, e sentimo-nos provocados, atraídos pela profundidade. Recebemos o
convite para avançar para águas mais profundas. Sabemos que lançar-se para
águas mais profundas, é deixamo-nos tomar pela força e suavidade do Reino de
Deus, pelas profundezas do mistério amoroso de Deus, pelas águas sobre as quais
sempre repousa o Espírito do Senhor. Lenitivo que nasce das profundezas da
misericórdia de Deus, onde se manifesta a abundância de uma vida nova, de um
Reino novo.”
“Às
águas mais profundas às quais Jesus nos envia, nos faz perceber que não
estamos sós, sempre podemos contar com as irmãs e os irmãos para servir,
ajudar, socorrer, misericordiar. Vamos aprendendo que a vida do Evangelho
pertence a todos, e a todos cabe espalhar, esparramar, testemunhar a
superabundância da vida nova, da Boa notícia. Somos convocados e provocados à
comunhão, à solidariedade, ao anúncio e ao testemunho”, segundo o arcebispo de
Manaus.
Inspirado
em Aparecida, o cardeal disse que “diante da grandeza, a abundância da vida que
Jesus nos oferece, nasce a admiração e gratidão.” Segundo ele, “a
fecundidade e os sinais da presença da vida de Jesus, despertam admiração,
espanto e encanto. Quando atraídos pelas águas extraordinárias da Palavra
de Deus somos como Pedro levados à maior disponibilidade e ousadia no servir e
no anúncio. Nos alegramos e louvamos pelas obras benfazejas que a Palavra
suscita e realiza em nós. Somos provocados ao anúncio, mas também à graça da
celebração, da meditação. A Eucaristia, a celebração comum, torna-se fonte e
cume da comunidade de fé. Da profundidade das águas da Palavra vamos ao
encontro da Palavra feita Pão.”
Ele lembrou que “nós, como Pedro, somos, então, tomados pela reverência e reconhecemos a nossa fraqueza e miséria. Na admiração e gratidão, percebemos melhor a nossa fragilidade e fraqueza. Por isso, nos expomos sempre mais à graça da profundidade da Palavra, das águas mais profundas, à força e suavidade do Espírito e ao amor misericordioso do Pai.”
“A
admiração e a gratidão transformam Pedro, num homem de esperança e de confiança.
É um esperançado, um aguardador e construtor de novos tempos, novos céus e nova
terra. Sabemos, então apontar novos horizontes, oferecer novo sentido,
despertar vida nova nos ribeirinhos, nas pequenas comunidades. É para toda a
comunidade eclesial somos discípulos missionários, discipulas missionárias”,
sublinhou o cardeal Steiner.
Segundo
o arcebispo, “a vida cristã é um risco, quando permanecemos à margem,
lavando as redes da noite do vazio de nós mesmos. É um risco, quando não
nos entregamos de corpo e alma, por inteiros, todo inteiros ao serviço dos
irmãos, das irmãs! É um risco, quando não chegamos até as periferias
geográficas e existenciais e deixamos de anunciar e proclamar a grandeza do Reino
de Deus.”
“Jesus
nos envia para as profundezas das misérias, dores e sofrimentos de nosso povo.
Na profundidade do drama humano, das entranhas do abandono, somos provocados a
buscar, nas águas misericordiosas e compadecidas do mistério do amor de Deus, o
óleo do consolo e o vinho da proximidade para os irmãos e irmãs. Descer para a profundidade do coração de cada um dos irmãos e irmãs; compadecidos,
tocar,
Ele
disse que “existe em cada um de nós, diante da beleza, nobreza, da profundidade
e mística da mensagem de Jesus, uma certa indignidade da nossa parte.” Ele
lembrou o texto de Isaías lido na primeira leitura e sobre a segunda leitura,
disse que “Paulo a nos recordar essas águas profundas nas quais necessitamos
mergulhar e pescar, isto é, nos alimentar”. Depois de citar o texto, afirmou
que “a vida, a morte e ressurreição de Jesus iluminam, alimentam, fortificam
a nossa vida, o nosso caminhar na fé. Ali a profundidade do nosso viver,
caminhamos na santidade, na profundidade da graça que recebemos.”
“Talvez,
também nós um dia diremos e testemunhemos como Paulo”, disse citando o texto.
Nesse sentido, “nossa vida, não será estéril, inútil, mas fecunda, prodiga,
gerativa, santa, pois aceitamos ir para as águas mais profundas”, afirmou o
cardeal Steiner.
Finalmente,
lembrou as palavras de São João Paulo II na passagem do século: “Avança para
águas mais profundas”! Segundo o
arcebispo, “estas palavras ressoam hoje aos nossos ouvidos, convidando-nos a lembrar
com gratidão o passado, a viver com paixão o presente, abrir-se com confiança
ao futuro: ‘Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre’ (Heb 13,
8)”. Finalmente, ele pediu que “aceitemos o convite de Jesus: sempre recomeçar!
Amém.”
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