sexta-feira, 2 de abril de 2021

“O Servo Sofredor se faz presente nos Sofredores de nossos dias”, afirma Dom Ionilton na Sexta-feira Santa



“O Senhor é nossa esperança para combatermos a pandemia; é nossa esperança de que vamos conquistar nosso direito a ter vacina já e para todas as pessoas em todo o Brasil”. Com essas palavras, Dom Ionilton Lisboa de Oliveira atualizava as palavras que a liturgia do Ofício da Paixão nos apresenta para nossa reflexão: “Senhor, ponho em vós minha esperança. Eu entrego em vossas mãos meu destino”.

Cristo, o Servo Sofredor, relatado pelo profeta Isaias, se faz presente nos Sofredores de nossos dias. É N´Ele que “permaneçamos firmes na fé que professamos”, o que levava ao Bispo de Itacoatiara a pedir “que nada nem ninguém nos roube a fé que professamos”, e junto com isso, “que nenhuma promessa ilusória de milagre, faça-nos abandonar o caminho como Igreja que estamos fazendo”.

Ao falar sobre Jesus que saiu com os discípulos, Dom Ionilton afirmava que isso “lembra-nos Cristo andante, lembra-nos que somos uma Igreja missionária por natureza, lembra-nos o apelo do Papa Francisco: ser uma Igreja em saída, fazendo nossa missão ser eminentemente missionária e não apenas de conservação”. Um Jesus que é consciente de tudo o que está em volta dele, que tem uma identidade bem definida, o que deve nos levar a refletir, segundo o bispo sobre nossa consciência e identidade como cidadãos e como cristãos.

Seguindo o princípio de Jesus da não violência, algo que faz ver a Pedro, o bispo de Itacoatiara chamava a “dizer não a toda forma de violência física, moral, policial, familiar, religiosa. Somos chamados a dizer não à pena de morte, a liberação das armas, aos linchamentos”. Seguindo o relato da Paixão, de Jesus prendido e amarrado, de Jesus inocente levado à prisão, Dom Ionilton lembrava dos “presos políticos na época da ditadura militar; presos políticos mais recentes, a partir de juízes parciais, que julgam não a partir da lei, do amplo direito de defesa, mas para obter vantagens, para eliminar opositores, para ganhar cargos no governo”.




Mas é um Jesus que se defende, que pergunta por que lhe batem, o que tem que nos levar a “nos defender das injustiças e de toda maldade que queiram fazer a nós e ao nosso povo”, segundo o bispo. E junto com isso a “defender a nossa Casa Comum, a Mãe Natureza. Não podemos nos calar. Temos de nos indignar, não podemos deixar que anestesiem a nossa consciência social”, recordando assim as palavras do Papa Francisco na Querida Amazônia.

Citando as palavras em que Jesus diz que “Vim dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”, ele se perguntava se somos e estamos do lado da verdade. Isso o levava a refletir sobre as notícias falsas, e nossas postura diante delas, sobre nossa postura nesse tempo de pandemia para com a ciência, sobre nosso apoio à necessidade do isolamento, do uso de máscaras, álcool em gel, do apoio à vacina... Ou se pelo contrário somos da turma dos chamados negacionistas, daqueles que saem às ruas sem nenhuma proteção, que faz aglomeração de pessoas, que se opõem ao isolamento, afirmando que prejudica a economia... Situações tão presentes hoje em nossa sociedade.

O bispo também refletia sobre as atitudes de alguns personagens que aparecem no relato da Paixão, sobre o medo de Pilatos, daquele que “julga por medo, para agradar a alguém, para garantir o emprego, para tirar benefícios, pro exemplo, ganhar um ministério, uma secretaria, sair candidato, receber dinheiro”. Pilatos que entrega Jesus para ser crucificado, “um julgamento falso feito por um juiz parcial, que age como defensor de um grupo político ou de um poder religioso, condena inocente a morte. Aconteceu com Jesus e aconteceu e acontece em nossa história até hoje”, insistia Dom Ionilton.

Ele refletia sobre as mulheres ao pé da Cruz, “mulheres símbolos da resistência e da resiliência”. Aquelas que ao contrário dos homens que fugiram, “estavam lá ao pé da cruz, sendo solidárias com Jesus até o fim. Não se importando com o que poderia acontecer com elas”. Essas mulheres que hoje continuam presentes na Igreja, também na Amazônia, lembrando as palavras do Documento Final do Sínodo, onde diz que “a Igreja na Amazônia quer ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva... Se a Igreja perde as mulheres... corre o risco da esterilidade”, e da Querida Amazônia, onde o Papa Francisco insiste para que “as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na coordenação das comunidades”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

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