No dia 9 de junho, o Papa Francisco nomeou Dom
Fernando Barbosa dos Santos novo bispo de Palmares (PE). Chegado na Prelazia de
Tefé em 2014, o bispo faz uma leitura do tempo vivido na Amazônia, onde diz ter
vivido uma grande experiência, “experiência missionária, experiência de
despojamento, de simplicidade, de humildade”.
Dom Fernando destaca que “a Prelazia de Tefé é uma
Igreja missionária, com um rosto laico”, colocando os dois grandes encontros
das CEBs acontecidos nos últimos 7 anos como momentos marcantes no seu tempo na
Prelazia. Ele também destaca a importância do Sínodo para a Amazônia, onde o
bispo eleito de Palmares participou como padre sinodal. Segundo Dom Fernando, a
maior contribuição do Sínodo “é esse reforço do engajamento de nossos leigos e
leigas dentro de uma realidade amazônica”, insistindo na importância do
reconhecimento dos ministérios.
Ao falar sobre a escuta, uma insistência cada vez
maior da parte do Papa Francisco, Dom Fernando afirma que “a escuta nos ajuda a
nos inserir na comunidade, na Amazônia”. Segundo ele, “você chega numa terra
desconhecida e se torna conhecido quando você dialoga com as pessoas, quando
escuta”, enfatizando que “na escuta se fala da vida, se fala dos sonhos das
pessoas”. É essa atitude de escuta que espera lhe acompanhe em sua nova missão
na Diocese de Palmares.
Depois de 7 anos como bispo na Amazônia, na Prelazia
de Tefé, volta de novo para uma região que o senhor conhece. O que o senhor
está levando de volta da Amazônia e o que é que o senhor espera diante da nova
missão como bispo de Palmares?
Diante deste momento que estou vivendo de
transferência, da Prelazia de Tefé para a Diocese de Palmares, primeiramente eu
levarei a grande experiência da Amazônia, experiência
missionária, experiência de despojamento, de simplicidade, de humildade.
Foi aqui na Amazônia que eu aprendi ser bispo, aprendi a caminhar com os povos
amazônicos, principalmente os povos indígenas.
Levo essa parcela de contribuição, tanto na minha vida
futura quanto também naquela comunidade, naquela diocese que com muita alegria
também me acolhe. Tudo isto são contribuições necessárias que vamos adquirindo
nesse tempo tão pouco que eu passei na Prelazia de Tefé.
Qual seria o melhor momento, a melhor experiência
nestes sete anos na Prelazia?
A Prelazia de Tefé é uma Igreja
missionária, com um rosto laico. O que mais me marcou como experiência, o
que mais me chamou a atenção, o que mais me envolveu na missão, foi a
experiência das comunidades de base, a experiência com alguns povos indígenas e
a experiência juntamente com os agentes de pastoral, os leigos e leigas.
Teve um momento muito importante da Prelazia de Tefé,
que eu participei de dois encontros das CEBs. Logo quando eu cheguei, em 2014,
e também em 2018, que foi na cidade de Jutaí. Nesse encontro das comunidades, a
temática era o Sínodo para a Amazônia, nós trabalhamos muito isto. Lembro muito
bem que o irmão João Gutemberg foi um dos facilitadores, o cantor leigo
consagrado Zé Vicente, e muitos outros assessores, que foram até a cidade de
Jutaí, onde era sediado o encontro das comunidades.
Me chamou muito a atenção a presença de mais de mil
lideranças, mil delegados de toda a Prelazia. O envolvimento das pessoas, a
alegria, tanto os moradores da cidade, acolher todos os delegados das CEBs,
como também o engajamento dessas pessoas nas oficinas, aprofundando o que é a
REPAM, o que era o Sínodo, que novos caminhos são esses. Tudo aquilo nos ajudou
bastante, e está ajudando, o Sínodo está ajudando as nossas Igrejas
particulares a encontrar caminhos pastorais mais dinâmicos, uma Igreja mais
evangelizadora.
Para mim foram muito marcantes esses dois momentos na
Prelazia de Tefé, e tantos outros, como a festa de Santa Teresa, beber nas suas
fontes espirituais também ajuda muito o bispo.
O senhor falou do Sínodo para a Amazônia, o senhor foi
padre sinodal, participou de todo o processo, e até agora esteve participando
desses novos caminhos. Como o senhor pensa que o Sínodo para a Amazônia pode
ajudar, nem só a Igreja da Amazônia, como a Igreja do Brasil e do mundo, nesse
processo de renovação e conversão pastoral?
Falar do Sínodo para a Amazônia, do qual participei
com alegria, com a convocação que o Santo Padre fez a todos os bispos da
Pan-Amazônia, a maior contribuição que o Sínodo está trazendo para as Igrejas
particulares, especialmente para Tefé, é esse reforço do engajamento de nossos
leigos e leigas dentro de uma realidade amazônica que exija da própria
comunidade eclesial o reconhecimento dos ministérios, é muito importante esse
reconhecimento.
Existe já muitas experiências, riquezas
importantíssimas para a evangelização na Prelazia de Tefé, como o ministério
dos animadores do setor, instituído pelo bispo, como uma marca muito grande de
todos os bispos que passaram por esta Igreja local. Nesses novos caminhos,
quero destacar a importância dos catequistas locais, que na Prelazia de Tefé já
havia uma experiência de catequistas locais, que é o reconhecimento daquele
animador da comunidade instituído pelo bispo. Ali, aquela pessoa representa a
comunidade, representa a Igreja, e ele é reconhecido. Ele é enviado, ele é
apresentado à comunidade, como responsável daquela pequena comunidade
ribeirinha.
Os novos caminhos nos levam também a beber desta fonte
dos nossos povos indígenas, tanta beleza na sua vivência espiritual e no seu
relacionamento com a natureza, com a comunidade. O sentido de partilha, o
sentido de pertencer a um chão que tem toda uma intimidade de amor, como mãe
Terra, esse vínculo de amor, esses povos que defendem a vida, que defendem o
Planeta, que defendem a casa comum. São tantos novos caminhos!
E como resultado do Sínodo, o Papa Francisco nos deu
um presente, que a exortação apostólica, que trata dos quatro sonhos já
conhecidos: ecológico, social, cultural e eclesial. Cada sonho desses já uma
realidade em muitas dioceses, já se concretizam muitas coisas. Mas para avançar
mais ainda à luz do Sínodo, nós temos a graça agora da Conferência Eclesial da
Amazônia, a CEAMA.É uma conferência nova, que cada vez mais, ela vai se
tornando vista e essa conferência é para ajudar em todos os encaminhamentos,
seja do Documento Final, seja da exortação apostólica, para uma Igreja mais
missionária.
Com o Sínodo, também abre possibilidades para novos
ministérios dentro da Igreja; abre possibilidades de virem outras congregações
religiosas, masculinas e femininas; abre maior possibilidade de repensar a
formação do nosso clero, dentro de uma realidade amazônica, inculturada; abre
outra possibilidade de uma liturgia ligada à vida, ligada à convivência da
comunidade, à realidade amazônica, e também nos abre um espírito de justiça, de
defesa dos povos originários. Esse espírito de justiça de uma Igreja que
precisa estar atenta enquanto aos direitos dos nossos povos indígenas, aos
direitos dos ribeirinhos e de todo o povo amazônico.
No seu envio, na Prelazia de Tefé, foi destacado a sua
capacidade de escuta. Diante do Sínodo sobre a Sinodalidade e a insistência do
Papa Francisco em que numa Igreja sinodal a escuta é fundamental, também por
parte do clero e dos bispos, por que a escuta é importante na sua vida e no seu
ministério pastoral?
A experiência vivida em Tefé, foi uma experiência que
nos leva primeiramente a escutar, a escutar as pessoas, a escutar os
diferentes, porque na Amazônia há uma pluralidade também religiosa, uma
pluralidade de culturas. Então, a escuta nos ajuda a nos inserir na comunidade,
na Amazônia. Você não pode chegar numa comunidade, numa diocese, trazendo seu
modelo de Igreja, ou que você sabe tudo, que o outro não sabe de nada, que o
ribeirinho não tem certos conhecimentos da religião. Mas o ribeirinho, ele tem
a esperança da vida.
Trazer essa vida para dentro da liturgia, trazer essa
vida para dentro da Igreja, seja o clero, seja a vida dos religiosos, dos
leigos e leigas, trazer essa Igreja viva. E a gente traz é vida, a gente traz
as experiências, e trazendo as experiências é porque logo nós escutamos. E nós
escutamos quem? Nós escutamos os povos originários, isso aqui é onde está a
capacidade em administrar o pastoreio. Você chega numa terra desconhecida e se
torna conhecido quando você dialoga com as pessoas, quando escuta.
Porque na escuta se fala da vida, se fala dos sonhos
das pessoas. Por isso que a exortação apostólica quer ajudar a gente a entender
que é a partir de uma escuta que poderemos sonhar e concretizar um projeto. Se
você não escuta, você impõe. O Papa Francisco tem insistido muitíssimo nisso,
que os pastores, os responsáveis pelo Povo de Deus, primeiramente escuta,
escuta às pessoas, elas têm a nos acrescentar, a nos ajudar.
O que o senhor espera encontrar em Palmares, como
pensa que o que tem vivido até agora pode lhe ajudar, e como o senhor pensa que
o novo serviço que a Igreja este lhe encomendando pode lhe ajudar no seu
ministério episcopal?
Mais uma vez reafirmo que para mim foi uma surpresa
ser nomeado como bispo para a diocese de Palmares, e espero que lá também
escute. Primeira coisa é a gente chegar com o coração aberto para acolher as
pessoas que estão lá, sejam os padres, as religiosas, os religiosos, os
diáconos, seminaristas. Então, como é importante chegar com o coração
tranquilo, aberto, para acolher todos.
Assim como eu fui tão bem acolhido na Prelazia de
Tefé, e fui enviado, assim também quero me sentir em Palmares, como pastor
humilde, simples e que escuta às pessoas. Diante do processo de escuta, nós
vamos traçando as nossas linhas pastorais, no diálogo com a sociedade, com as
autoridades, porque isso é muito importante. Então, levo a todos que me esperam
lá em Palmares a minha simplicidade, e estou tranquilo para trabalhar com o
Povo de Deus e com os nossos padres, que nos esperam.
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