O combate ao trabalho escravo deveria ser uma
prioridade no Brasil, algo que a gente sabe não é bem assim. Tem gente que se
empenha nisso, inclusive tem gente que já morreu combatendo uma realidade que
deveria estar desterrada do país. Em 28 de janeiro de 2004, 3 auditores fiscais
do Trabalho foram assassinados em fazendas da região de Unaí (MG).
Em homenagem a eles, foi criado em 2009 o Dia Nacional
de Combate ao Trabalho Escravo, celebrado em 28 de janeiro. Estamos diante de
uma data que deve levar à sociedade brasileira a tomar consciência da
necessidade de se envolver nesse combate, em todos os níveis, poder público e sociedade
civil organizada.
No mundo, segundo a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), 40 milhões de pessoas são vítimas do trabalho escravo
contemporâneo. Pessoas que são vistas como mercadoria ao serviço de uma
economia que mata, que impede as pessoas realizar sonhos, construir com seu
esforço uma vida melhor para elas e para suas famílias.
O trabalho escravo é uma realidade mais presente em
pessoas vulneráveis. A ameaça do desemprego, da fome, o desespero diante do
sofrimento próprio e das pessoas mais próximas, fazem com que essas pessoas se
tornem com maior facilidade alvos das redes de tráfico humano. Existem regiões
e coletivos no Brasil onde isso sempre foi uma realidade presente, mas com a
pandemia da Covid-19, que aumento exponencialmente o desemprego e a fome, tem
se tornado uma ameaça ainda maior.
Em 25 anos, de 1995 a 2020, no Brasil foram resgatados
mais de 55 mil trabalhadores e trabalhadoras pelas entidades de combate ao
trabalho escravo. Um número que de fato não contempla a verdadeira realidade,
ainda mais nos últimos anos, que a pandemia, como a gente já falou, se junta ao
desmonte dos órgãos de fiscalização, incentivado por um governo que vê os
Direitos Humanos, e qualquer tipo de direito, como privilegio e não como
direito de todos os brasileiros e brasileiras.
Também não ajuda o olhar para o outro lado, uma
atitude presente em muita gente, algo motivado por diferentes fatores. Tem
gente que sabendo não denuncia por medo, outros porque concordam e justificam
esse tipo de situações, ou simplesmente por desinteresse e falta de empatia com
o sofrimento alheio, atitude que podemos considerar dominante numa sociedade
onde o salve-se quem puder está se tornando norma de comportamento.
Pensar em escravidão não é se imaginar histórias do
passado, de africanos que chegaram por milhões nas costas brasileiras e
acorrentados eram vendidos. Essa página tétrica na história da humanidade
continua vigente, de modo diferente. O agronegócio, as fábricas clandestinas de
roupa, e tantas outras realidades continuam acorrentando muitos homens e
mulheres com grilhões invisíveis, mas que amarram firmemente as pessoas.
O grande desafio é denunciar e exigir a atuação firme
e decidida dos órgãos de combate ao Trabalho escravo. Sem consciência social se
torna mais difícil dar os passos na erradicação de uma realidade que degrada a
condição humana, que questiona o grado de humanidade de uma sociedade muitas
vezes desumana. Não duvide, denuncie, esse é o caminho para mudar a realidade,
para garantir a liberdade de todos e todas!
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 - Editorial Rádio Rio Mar
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