quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Dom José Albuquerque: “Eu preciso antes de tudo respeitar a caminhada da Igreja local e colocar-me numa atitude de escuta”


Depois de seis anos e meio como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Manaus, no dia 21 de dezembro de 2022, o Papa Francisco nomeou Dom José Albuquerque de Araújo como Bispo da Diocese de Parintins, sendo marcado o início de sua nova missão para o dia 12 de fevereiro de 2023. Uma nomeação que Dom José está vivendo “com alegria e tristeza, tristeza no sentido de que quando fui ordenado bispo, eu já sabia que eu poderia ser chamado para servir em outro lugar”.

O Bispo eleito da Diocese de Parintins lembra sua grande ligação com a Arquidiocese de Manaus, “toda minha vida até hoje foi ligada à vida da Igreja aqui”, o que o leva a afirmar que tem ficado com o coração apertado, vivendo o convite para seu novo serviço “como um turbilhão de emoções, alegrias, tristezas, uma grande satisfação porque vou poder continuar na Amazônia, mas por outro lado tenho que me desligar da família, dos amigos”.

Dom José Albuquerque diz ter em relação à sua nova diocese “bastante proximidade e identificação, a começar do bispo, Dom Giuliano. Quando era padre aqui em Manaus, ele nos ajudou muito nas periferias, os missionários do PIME (Pontifício Instituto de Missões Estrangeiras), sempre foram uma presença muito importante na Igreja local, aqui em Manaus”, lembrando que ele participou da ordenação episcopal de Dom Giuliano Frigenni acontecida na Catedral de Manaus em 1999.

O novo bispo mostra sua alegria em “poder dar continuidade e conviver com ele, porque o convite já foi feito para que ele pudesse continuar em Parintins, pela sua experiência, pela sua relação de mais de 20 anos que está lá”. Junto com isso afirma já se sentir envolvido com a vida da Igreja local, lembrando que “a maioria dos padres que estão lá, foram nossos formandos aqui no Seminário (Dom José foi formador e reitor do Seminário São José de Manaus, onde se formam os seminaristas do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e os padres que já têm mais de 20 anos de ministérios foram meus colegas como seminaristas, um ou outro que eu não convivi, eu me sinto muito em casa”.



De fato, Dom José se mostra impressionado com a acolhida das pessoas, lembrando que em Manaus tem muitos parintinenses e dos municípios que fazem parte da diocese: Nhamundá, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Maués. A Igreja de Parintins sempre teve uma relação muito próxima com Manaus, vários bispos trabalharam como padres missionários na Arquidiocese, lembra o bispo.

Alguém que tem trabalhado a dimensão vocacional como padre e como bispo, vai para uma diocese com um bom número de padres locais, reconhecendo que a Diocese de Parintins, “ela nasceu da ação missionária dos padres e das religiosas que vieram de fora, e sempre teve muito essa preocupação de formar o clero local”, sendo uma das dioceses da Amazônia com um número expressivo de padres incardinados. Segundo Dom José, o desafio, ainda mais neste Terceiro Ano Vocacional que a Igreja do Brasil vive, “é continuar nessa animação ajudando que cada deles se torne perseverante, possam continuar na formação permanente e possam ajudar a formar a Igreja para que a Igreja de Parintins também seja missionária, termos missionários de Parintins que possam ajudar em outras regiões do Brasil e do mundo”, recordando que já tem missionários e missionárias nascidos na diocese em outros países.

Dom José insiste em que “precisamos incentivar e ajudar a criar essa cultura vocacional, fazendo com que as lideranças leigas, todo mundo possa trabalhar nesse mesmo projeto da evangelização e que neste Ano Vocacional possamos ter muitos frutos”. O bispo lembra que a Diocese de Parintins tem 11 seminaristas, a final de janeiro acontecerá mais uma ordenação presbiteral, e mais um concluiu o curso de Teologia recentemente. Também lembra as comunidades religiosas, muito inseridas na pastoral, morando no interior da diocese, o que “mostra essa dimensão profética da Vida Consagrada”.

O Bispo eleito insiste em seu desejo de que “a Igreja de Parintins possa ser uma Igreja aberta, que possa valorizar todos os ministérios, todos os carismas”, destacando que “a Igreja da Amazônia é caracterizada por esse protagonismo dos leigos e dentre estes temos o papel das mulheres, que é fundamental para a animação das comunidades”. Ele insiste em seguir nesta linha, “que o Ano Vocacional também ajude a cada um dos cristãos leigos e leigas a se sentirem chamados e envolvidos na construção dessa história, valorizando todos os ministérios”.



Nesse sentido, Dom José lembra da presença do diaconato permanente, da realidade das comunidades indígenas, que ele vê como uma riqueza, mas que “nos coloca nessa atitude de poder escutá-los e poder perceber que as lideranças dessas comunidades indígenas precisam ser ajudadas e apoiadas para que eles possam levar adiante os projetos da evangelização. Não recebam de fora, mas que possam surgir dentro dessas comunidades, até mesmo vocações ao ministério ordenado e à Vida Consagrada”. O Bispo lembra que “a presença da Igreja nas comunidades indígenas, para nós sempre foi muito valioso e prioritário, isso que eu quero continuar”.

Ser o primeiro bispo amazonense depois de quatro bispos italianos na Diocese de Parintins, é visto por Dom José Albuquerque desde sua história pessoal, filho de migrantes, evangelizado numa comunidade paroquial animada por missionários, insistindo em que “sempre tive muita admiração e tenho muita gratidão por todos esses missionários que nos ajudaram aqui em Manaus, nas nossas periferias”. Inclusive, ele afirma que “também foi por isso que o Senhor me colocou em mim essa inquietação para ajudar a termos um clero autóctone, que podem servir à Igreja daqui, inclusive no ministério episcopal”.

Segundo o Bispo eleito da Diocese de Parintins, “eu aceitei porque quero ser o primeiro de muitos, dado que aqui as comunidades se alegram de ter seus padres, seus bispos daqui da região. Eu sinto esta alegria, mas ao mesmo tempo esta responsabilidade, de ser o primeiro amazonense que está em Parintins”. Algo que ele vê como fruto de todo um trabalho, ressaltando que “os missionários do PIME, eles semearam, e a minha ida a Parintins é um coroamento de todo um trabalho de décadas”. Por isso ele insiste em “continuar nessa perspectiva, para que se possa cultivar em nós, clero diocesano, essa dimensão missionária”.

Partindo do Sínodo da Amazônia, Dom José diz que “ele nos lembra que a nossa Igreja precisa estar em comunhão, caminhando juntos e se colocando ao serviço de lugares mais carentes e necessitados”. Por isso, se sentindo honrado em fazer parte dessa história, Dom José diz esperar que “em outras dioceses e prelazias da nossa região também possamos ter a alegria de ter bispos aqui da região amazônica”.




Dom José se diz “muito grato e admirador de todos os bispos que vieram para cá. Bispos vindos de outras regiões do país amaram esta terra”. Segundo ele, “quem vem de fora tem que vir com esse despojamento, de mergulhar dentro desse universo cultural que é tão complexo e tão diverso”. Nesse sentido, “se tem uma vantagem de ser daqui é porque de alguma forma, nós já estamos adaptados a essas circunstâncias, que interferem”, afirma o bispo, que coloca como exemplo a questão da saúde, do clima, da alimentação, do jeito de ser, do temperamento, insistindo em que “temos várias amazônias dentro da própria Amazônia, e quem vem de fora demora mais a se inserir, e muitas vezes precisa fazer um esforço e um sacrifício grande”.

Diante disso, algo que segundo Dom José não podemos esquecer, é que “todos nós somos movidos pelo mesmo amor, pela mesma paixão a Jesus Cristo, ao seu projeto, a nossa identificação com o povo, com as comunidades”. Ainda mais, ele ressalta que “quem vem de fora, demostra até um amor maior, porque vem aqui sabendo que vai passar por muito sacrifício, principalmente quem vai para o interior da Amazônia, onde a vida é muito sofrida”.

Segundo o bispo, “ao viver no meio do povo, a gente aceita todas as carências que temos”, o que o leva a destacar “quanto esforço precisa fazer para poder mergulhar nesse contexto tão complexo que é a nossa realidade amazônica”, o que exige “atitudes de paciência, de respeito e de aprendizado, saber que são eles que nos ensinam e que são eles que nos evangelizam, e nós ministros da Igreja somos aqueles que nos colocamos nessa atitude de sermos os facilitadores, de sermos aqueles que vão juntar forças”.

Em relação à nova missão, o Bispo eleito da Diocese de Parintins diz que “quando a gente vai para uma nova experiência, a gente tem que antes de tudo saber que Deus sabe o que é melhor para mim e para a Igreja local”. Dom José afirma estar “acolhendo esse chamado como uma oportunidade única na minha vida de levar tudo aquilo que eu vivenciei aqui na Arquidiocese de Manaus e na convivência com os bispos, ao longo desses últimos seis anos e meio”. Diante disso, ele quer “ter muito presente que chegando em Parintins, eu preciso antes de tudo respeitar a caminhada da Igreja local e colocar-me numa atitude de escuta”, algo que nasce do Sínodo para a Amazônia e neste tempo de preparação para o Sínodo da Sinodalidade, onde aparece que “a gente precisa escutar mais”.




Eu preciso escutar mais, eu preciso saber que eu não devo ter a pretensão de levar respostas prontas, de fazer conclusões precipitadas e muito menos de realizar mudanças”, insiste Dom José. Para 2023, ele quer que seja “um ano de estar presente e de escutar, de acompanhar e incentivar aquilo que já está sendo feito, sem pretensão nenhuma”, isso a partir da convivência com Dom Giuliano, com o clero local e as lideranças leigas, em comunhão com as religiosas e os diáconos, buscando “caminhar juntos, e nesse caminho juntos Deus vai nos conduzindo para uma forma de a gente realizar aquilo que Ele quer, que o Reino de Deus esteja presente no meio daquele povo”.

Finalmente, Dom José destaca que “Nossa Senhora sempre esteve presente na minha vida”, desde a paróquia onde ele iniciou a vivência da sua fé, o fato dele ter sido pároco da Catedral da Imaculada Conceição, dela ser a padroeira da Arquidiocese de Manaus e que a Diocese de Parintins também seja dedicada a Nossa Senhora. Isso o leva a dizer que “eu sinto que nesse caminho que eu faço, Nossa Senhora sempre está do meu lado para me ajudar a imita-la. É nessa disponibilidade que eu quero viver o meu ministério lá, e sempre pedindo a sabedoria do Espírito Santo e que ele me ajudar a dizer, como Nossa Senhora diz, faça-se a tua vontade e não a minha”.

“Sabendo disso, eu sei que não vou me frustrar, não vou errar, porque eu sei que os planos não sou meus e o projeto eu não o escolhi”, afirma Dom José, algo que lhe recorda seu lema episcopal, dizendo que “eu sinto que foi uma escolha, um chamado de Cristo”, e que “por isso eu não posso dizer não, eu tenho que dizer sim para poder experimentar essa liberdade e essa alegria de saber que o projeto não é meu, o projeto é D´Ele”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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