A primeira
sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade entrou em seu segundo
módulo. E o fez com uma missa no rito ortodoxo, na qual "pudemos saborear
a riqueza de um dos ritos de nossa Igreja única e multifacetada", nas
palavras do Cardeal Hollerich, Relator Geral do Sínodo, que enfatizou que
"no primeiro módulo, nos reconectamos com a experiência do 'caminhar
juntos' do Povo de Deus nos últimos dois anos. Trabalhamos para focar melhor a
Igreja sinodal como uma visão global".
Passando do "eu" para o "nós
Lembrando
que até agora os membros da assembleia ganharam experiência no uso da
metodologia da Conversação no Espírito, começaram a tecer relacionamentos e a
criar vínculos, passando do "eu" para o "nós". Ele lembrou
que nesse Módulo a composição dos Círculos Menores está mudando, insistindo na
questão prioritária: "Como ser mais plenamente sinal e instrumento da
união com Deus e da unidade de toda a humanidade?".
O cardeal
partiu da premissa de que "a Santíssima Trindade é a base de todas as
comunhões", refletindo sobre as dificuldades de viver a comunhão em um
sentido prático, ao que insistiu que "todos são convidados a fazer parte
da Igreja", algo que o Papa Francisco insistiu na JMJ de Lisboa e em sua
homilia na missa de abertura. A partir daí, ele fez várias perguntas aos
participantes, mostrando a necessidade de partir de experiências concretas, em
nível pessoal e como Povo de Deus. Para isso, ele explicou como trabalhar nos
próximos dias e, assim, mostrar que em diferentes contextos a pergunta feita
neste módulo tem ressonâncias diferentes, valorizando a importância da
pluralidade.
Um Deus que tem sede de nós
"Como
podemos nos formar todos para uma comunhão que transborde em missão?" foi
a pergunta a partir da qual o Pe. Timothy Radcliffe OP iniciou sua reflexão
sobre o texto que narra o encontro de Jesus com a samaritana junto ao poço, que
passou de figura solitária a primeira pregadora do Evangelho. Algo que parte
das palavras de Jesus: "Dá-me de beber", insistindo que "todo o
Evangelho de João se articula em torno da sede de Jesus", e que "Deus
aparece entre nós como alguém que tem sede, especialmente por cada um de
nós".
Nas
palavras do frade dominicano, "nossos pecados, nossos fracassos, muitas
vezes são tentativas equivocadas de encontrar o que mais desejamos. Mas o
Senhor espera pacientemente em nossos poços, convidando-nos a ter ainda mais
sede". É por isso que a formação para "uma comunhão que
irradia", o tema deste módulo, "consiste em aprender a ter sede e fome
cada vez mais profunda". Isso porque "o que nos isola é ficarmos
presos a pequenos desejos, a pequenas satisfações, como vencer nossos
adversários ou ter status".
Sinodalidade: aprendendo a ser pessoas apaixonadas
A partir
daí, ele definiu a formação para a sinodalidade como "aprender a ser
pessoas apaixonadas, cheias de profundo desejo", perguntando,
especialmente aos seminaristas: "como se tornar pessoas apaixonadas -
apaixonadas pelo Evangelho, cheias de amor mútuo - sem desastres?” É por isso
que "uma Igreja sinodal será aquela em que somos formados para um amor sem
posses: um amor que não foge nem se apodera da outra pessoa; um amor que não é
abusivo nem frio".
"Devemos
nos treinar para encontros profundamente pessoais uns com os outros, nos quais
transcendemos os rótulos fáceis. O amor é pessoal e o ódio é abstrato",
enfatizou Radcliffe. O dominicano ressaltou que "muitas pessoas se sentem
excluídas ou marginalizadas em nossa Igreja porque lhes demos rótulos
abstratos", concluindo que "nosso papel como sacerdotes é, muitas
vezes, apoiar aqueles que já começaram a colher a safra antes mesmo de
acordarmos".
Comunhão: vivendo juntos em Cristo
A reflexão
continuou com a professora Anna Rowlands, que começou lembrando a pergunta do
padre Radcliffe: "Podemos ter a coragem de encarar a realidade como ela
é?", refletindo assim sobre a comunhão a partir da passagem das Bodas do
Cordeiro. A professora de Pensamento e Prática Social Católica destacou que o
módulo, que está sendo lançado, "nos leva ao coração desse paradoxo
cristão básico: esperança e dificuldade, a beleza e a liberdade do chamado de
Deus e os desafios de crescer em santidade".
Um texto
que recupera a linguagem da Lumen Gentium e nos leva a descobrir que "a
vida de comunhão nos é oferecida como a maneira abençoada de vivermos juntos em
Cristo, aprendendo a 'suportar' a realidade, com doçura, generosidade, amor e
coragem, para a paz e a salvação do mundo inteiro", compreender que a
comunhão é "o fundamento da realidade e a fonte do ser da Igreja", e
que "participar da vida de comunhão é a honra e a dignidade de nossas
vidas", chamando a pensar "na comunhão como a primeira e a última
palavra de um processo sinodal".
Comunhão: a beleza da diversidade na unidade
Uma
comunhão que é "a beleza da diversidade na unidade", superando a
homogeneidade do mundo moderno. Uma comunhão que, citando São Boaventura, nos
leva a refletir sobre "como a pluralidade da criação permite que todas as
diferentes cores da luz divina brilhem". Diante da competitividade do
mundo, "Deus nos atrai para uma comunhão de humildade e serviço",
destacou a professora do Departamento de Teologia e Religião do Centro de
Estudos Católicos da Universidade de Durham (Reino Unido). Portanto, essa seção
B1 "nos convida a crescer em comunhão, refletindo com humildade com
aqueles que são vulneráveis, sofredores ou fracos e sobre as vulnerabilidades e
fraquezas da Igreja", disse ela.
Uma seção
que nos leva a nos perguntar corajosamente "como podemos estar mais
próximos dos mais pobres, mais capazes de acompanhar todos os batizados nas
várias situações humanas, despojados de falsos poderes, mais próximos de nossos
irmãos e irmãs cristãos e mais comprometidos com nossas culturas
particulares". Isso porque "a Igreja nasceu inseparável do drama
humano", uma comunhão que "existe em realidades concretas e
tangíveis", e que encontra na Eucaristia "as diferentes dimensões da
comunhão".
Uma
comunhão que se traduz no acompanhamento de vítimas de abuso por parte do
clero, de migrantes e refugiados, que vêm à Igreja "porque aqui sou
recebido na porta pelo nome, e os funcionários sentam e comem conosco na mesma
mesa". Uma comunhão que "é uma participação que nos liga a outros
através do tempo e do espaço". Uma comunhão com linguagem pascal e
esperançosa, uma "realidade de uma comunhão que irradia, misteriosa e ao
mesmo tempo totalmente prática".
Quatro testemunhos de sinodalidade
A reflexão
foi concluída com quatro testemunhos, dois de mulheres e dois de homens. O
primeiro foi o da presidenta do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, que
testemunhou como o processo sinodal foi vivido no Brasil e o envolvimento dos
leigos e leigas. O segundo foi o de Sua Eminência o Metropolita da Pisídia Job
(Getcha), da Igreja Ortodoxa, que enfatizou que a sinodalidade é uma prática em
suas Igrejas como um espaço deliberativo, que garante a primazia, uma forma de
administrar a Igreja.
O padre
Clarence Davedassan, da Malásia, relatou a realidade da sinodalidade da Ásia,
com suas diversas culturas, religiões, línguas e etnias, afirmando que "a
importância asiática de ser relacional (com Deus, consigo mesmo, com outros
seres humanos e com o cosmos), característica de uma igreja sinodal, traz a
unidade da família humana e a unidade dos povos da Ásia". Isso se expressa
na vida cotidiana, pois "a diversidade de religiões na Ásia torna a
participação em várias formas de diálogo indispensável para a construção da
paz, da reconciliação e da harmonia".
Por fim, o
testemunho de Siu Wai Vanessa Cheng, também da Ásia, que partiu da ideia de que
quando "a sinodalidade desencadeia um processo em uma localidade, ele
assumirá diferentes formas com características comuns, mas também com
características diferentes". Por isso, ela lembrou que na Ásia a imagem de
"tirar os sapatos" foi escolhida para descrever a jornada sinodal
asiática, o que ela definiu como "um belo sinal de respeito e também uma
expressão da profunda consciência do sagrado que os asiáticos têm".
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