No dia em que a
61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que acontece
em Aparecida de 10 a 19 de abril de 2024, fez memória dos 70 anos da criação da
Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil e dos 60 anos da Campanha da
Fraternidade, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, refletiu sobre o
ser atraídos pelo Pai, pelo “charme transparente do Pai”, que encanta,
maravilha.
O Pai “atrai os
doentes no corpo e no espírito: famintos, cegos, mudos, coxos, leprosos, aqueles
com mau espírito, com espírito mudo; atrai os andantes e desandantes das ruas e
caminhos, os das esquinas da vida, para participarem do banquete da atração
(cf. Mt 22,1-14). Atrai a todos, mas infelizmente nem todos, talvez até nós,
apercebem-se atraídos. Jesus percebendo que eram atraídos pelo Pai, saciou de
pão, lhes deu novo horizonte, concedeu mãos, ofereceu pés, caminhos, purificou,
transformou no corpo e no espírito. Saiam saciados, carregando seus leitos,
retornando à vida familiar e religiosa”, enfatizou dom Leonardo.
Ele destacou “a
possibilidade e ser filho no Filho”, enfatizando que “não o procurarias, se
primeiro Ele não te tivesse procurado; não O amarias, se primeiro Ele não te
tivesse amado”, inspirado nas palavras de São Bernardo. “O que atrai é o amor;
atração amorosa! Um amor que procura, que seduz, pois atrai. O texto sagrado
insinua que não se trata de uma atração acontecida no passado,
mas que no amor, o Pai ‘atrai’ até o encontro amoroso no Reino definitivo. Um
convite a estarmos sempre mais em sintonia com esse amor atrativo”, enfatizou o
arcebispo.
Segundo o cardeal, “não é com a necessidade, mas com o prazer; não é com a violência, mas com o deleite que somos atraídos. Não so os sentidos têm os seus deleites, mas também a alma. E um deleite para a alma o ‘atrai’ do Pai!”. Ele lembrou alguns daqueles que foram atraídos: “basta ler Francisco de Assis, Teresa de Ávila, Teresinha do Menino Jesus, Hélder Câmara, Dom Luciano, Santa Dulce dos Pobres, basta olharmos para os nossos pobres, que vivem atraídos por Deus, basta acompanharmos os nossos romeiros”. Um ser atraído que nos faz “disponíveis, encantados, ativos, livres e libertos”, ressaltou.
“No ‘atrai’ somos despertados para a gratuidade do seguir Jesus, fugindo
de moralismos, da ideologização fé, de acharmos
que podemos aprisionar em conceitos e dogmatismos as
delicadezas atrativas do Pai”, destacou o cardeal. Isso porque no "atrai
há liberdade, a graça de poder corresponder gratuitamente à atração”,
advertindo contra a soberba, que nos leva, segundo Santo Agostinho a “considerar
que chegamos a Cristo com as forças da própria vontade, por própria decisão,
com as próprias forças”.
Um “atrai” que nos
faz ter delicadeza “para não sermos reféns de nós mesmos, das nossas ideias,
das nossas ideologias, das nossas dogmatizações. Ë que o ‘atrai’ é quase uma
tração que impulsiona para fora, o estar a caminho como as mulheres e
os homens que buscavam a Jesus”. Um “atrai” que faz ser tomado “pelo
contentamento, pela fecundidade da vida”, que “abre constantemente possibilidades
existenciais frente à cotidianidade dura e às vezes aniquiladora”, que traz “uma
maternidade paterna em relação aos necessitados, aos desvalidos aos que a
sociedade rejeita, aqueles e aquelas que andam e navegam sem destino, sem
porto, sem estrada, sem rio, sem chegada!”, disse o cardeal. Nessa perspectiva,
ele questionou a necessidade de “nas Diretrizes para a Ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil tornar audível, papável, saborável, visível o
"atrai" do Pai”.
Falando dos 70
anos da Conferência dos Religiosos do Brasil, o cardeal, religioso Franciscano,
definiu a Vida religiosa como “a visibilização na Igreja do quanto o Pai atrai
em Jesus”. Segundo ele, “com a CRB fazemos memória do testemunho do ‘atrai’ do
Pai, recordamos a mística da gratuidade, agradecemos a profecia da Vida
Religiosa e desejamos que ela continue a ser sinal de esperança”. Ele insistiu
em ver os 70 anos da CRB como “um convite reconhecer que a vida religiosa consagrada
é a expressão da força atrativa de Deus e da correspondência ao amor atrativo”.
Também um chamado “para renovar a graça da missão recebida: continuar a viver a
liberdade do Evangelho, ser a presença do Reino de Deus em todos
os espaços e geografias que o Espírito enviar”, convidando a “agradecer por
tudo o que a CRB tem oferecido para a renovação da vida religiosa, para manter
vivo o carisma de cada família religiosa, para ser uma presença de proximidade
e libertação dos pobres, ser sinal de esperança transformativa do ‘atrai’ do
Pai”.
O cardeal Steiner definiu a Campanha da Fraternidade como “uma expressão da forca força atrativa do Pai, pois caminho de conversão e libertação. No caminho salvífico da quaresma somos acordados para a benevolência atrativa de Deus meditando, rezando, discutindo tantas realidades que contradizem o Reino, o cuidado amoroso de Deus”. Fazendo um chamado a sermos em tudo a fraternidade, pois atraídos pelo amor, ele disse que “a fraternidade só é possível quando o amor está a guiar as palavras e as escutas, as nossas relações”.
Lembrando o lema de 2024, "Vós sois todos irmãos e irmãs", dom Leonardo insistiu que “a irmandade não nasce da dominação, mas da atração”, vendo a Campanha da Fraternidade como convite “a construir uma Fraternidade, uma irmandade, que transforma a vida em sociedade, tornando-a mais saudável, convivial”, a participar do direito de ser cidadão, levar uma vida digna, ser respeitado como ser humano. “Uma fraternidade universal, pois vivemos numa casa comum, e todo ser participa da obra da criação”, insistiu. Ele lembrou dos 60 anos de “realidades visibilizadas que nos fizeram perceber que não correspondem à força atrativa de Deus, em Jesus”, de “realidades discutidas, meditadas, rezadas, dialogadas que puderam nos despertar para a grandeza atrativa de Deus, no cuidado dos mais pobres”. Vida Religiosa e Campanha da Fraternidade que “nos foram enviadas como Filipe, para que pudéssemos fazer a leitura da força do ‘atrai’ do Pai em Jesus, a vida do Reino, e prosseguirmos com alegria o caminho”.
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